domingo, 14 de agosto de 2016

Rubgy na Rio 2016, onde toda forma de amor vale a pena

Eu, orgulhoso, ao lado da Isadora Cerullo, atleta olímpica e grande jogodora de rugby

Hoje darei um tempo do futebol para falar de uma bela história olímpica, que eu tive o prazer e a sorte de presenciar.

Estava no Rio de Janeiro para acompanhar as Olimpíadas, quando apareceu a oportunidade de assistir a um jogo de um esporte totalmente desconhecido por mim até então: rugby feminino. Pesquisando, descobri que a versão desse esporte na Olimpíada é mais simplificada e foi criada com o objetivo de popularizar o esporte. Contando com apenas 7 jogadores e com duração de dois tempos de 7 minutos, os times chegam a jogar duas vezes por dia e um torneio inteiro tem duração de 3 ou 4 dias.  Eu fui ver a terceira rodada inteira, com seis jogos seguidos. Com isso eu teria oportunidade de assistir, além das principais seleções como Nova Zelândia e Austrália, o jogo da seleção brasileira contra o Japão.

Contribuindo para o clima olímpico, levei uma bandeira dos refugiados para pendurar no estádio para dar maior visibilidade para esse tema tão importante no mundo atual, ainda mais quando Brasil fecha suas portas para receber refugiados sírios. No estádio, localizado no Centro Olímpico de Deodoro, além de bandeiras de diversos países, tinha uma com o famoso arco-íris que representa o movimento LGBT carregada por um grupo de torcedores sentado bem perto de onde estava. Achei legal essa galera nas arquibancadas, contribuindo para diversificar o ambiente. O Brasil jogou muito bem e conseguiu sua primeira vitória no torneio.

Ambiente da torcida celebrando a diversidade (foto: Paulo P. Burian)

Depois de um tempo, durante outras partidas que se seguiram, uma das jogadoras do Brasil apareceu naquela parte da arquibancada perto e foi saudada festivamente. A poucos metros de onde eu estava, pude percebi que a atleta era extremamente simpática e atendia a diversos pedido de fotos e autógrafos de fãs das mais diversas idades. Resolvi tietar também e fui lá cumprimenta-la. Na hora, descobri que se tratava da Isadora Cerullo, conhecida como Izzy. Além de simpática e ótima jogadora, ela tinha uma história interessante: filha de brasileiros, cresceu nos EUA e tem dupla nacionalidade. Já tinha feito cursos de biologia e direitos humanos e se preparava para ingressar em medicina nos EUA, quando soube que a Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) estava convocando atletas pelo mundo que tivessem nacionalidade brasileira também para que formassem uma seleção local. Depois de refletir por 4 meses, ela resolveu largar a vida planejada nos EUA e veio para cá realizar o sonho de ser atleta olímpica [1]. Veio constituir a seleção brasileira e ainda faz parte do Niterói Rugby. Nesse processo, conheceu Marjorie Enya, gerente do time de rugby e com quem iniciou uma bela história de amor.

Momento do pedido em casamento (http://thebiglead.com/2016/08/09/brazilian-rugby-player-isadora-cerullo-gets-proposed-to-after-medal-ceremony/)

Na segunda-feira passada, dia seguinte aos jogos que assisti, o Brasil encerrou sua participação no rúgbi feminino com um honroso 9º lugar (fato que garantiu a participação do Brasil no circuito mundial) e, ao término, Izzy foi surpreendida por um inusitado pedido de casamento de sua namorada em plena instalação olímpica. Pedido aceito na hora e que teve ótima repercussão no mundo. Certamente a notícia de um fato como esse é algo a ser muito celebrado e entrou para a história dessa Olimpíada. Em um momento em que não só no Brasil mas no mundo, nos deparamos como uma onda conservadora, de seguidos atos de homofobia, xenobobia e racismo, histórias como essa nos fazem manter a esperança por um mundo melhor, como ela mesmo sentenciou:

"Toda essa visibilidade está dando um novo rosto ao Brasil. Por ser o país que está sediando os jogos, isso ajuda a abraçar essa mentalidade mais tolerante" [2]

Fiquei feliz de ter, de certa forma, testemunhado um momento importante não só para o esporte, mas para toda a sociedade. Que o amor vença a intolerância e o ódio.

Cena do jogo entre Brasil e Japão pela primeira fase (foto: Paulo P. Burian).