segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Rumo do São Paulo de Hélio Ziskind

Capa do Disco Coração de 5 Pontas


Hoje, 25 de janeiro, na mesma data em que a cidade de São Paulo faz 462 anos, marca também o aniversário do time que leva seu nome. Fundado em 25 de janeiro de 1930, o São Paulo completa hoje 86 anos.

Para celebrar o time que teve como um dos destaques no jogo de despedida do Rogério Ceni shows de rock com diversos músicos tricolores, vale citar aqui outro importante registro musical para o São Paulo: trata-se de um disco bem criativo do Hélio Ziskind, que conta em ritmo canções para crianças, a história do Tricolor do Morumbi (1). Com o nome de “Coração de 5 Pontas”, trata-se de um projeto de Rui Branquinho, publicitário tricolor que volta e meia aparece com alguma boa ideia,

Hélio Ziskind é um desses músicos da vanguarda paulistana que, na década de 1970 lançou, ao lado de gente como Luiz Tatti, Paulo Tatti e Ná Ozetti, o grupo Rumo. Entre 1981 e 1991, o Rumo lançou sete discos. Tinha como uma das características principais a boa dose de experimentalismo. 

A partir da década de 1990, já em carreira solo, Hélio Ziskind passa a direcionar a maior parte da sua criação para o público infantil. Entre diversos discos de histórias e músicas infantis, merece destaque o trabalho de composição para o Castelo Ra-tim-bum, excelente programa infantil da TV Cultura durante parte dos anos 1990 e 2000. Quem não se lembra do som de abertura: bum-bum-castelo-ratim-bum? ( https://www.youtube.com/watch?v=Vrf4mdnOi10 )

Outro infantil de grande sucesso de autoria do Ziskind foram as canções para a Turma do Cocoricó. Tá na hora do Co-co-ri-cóooo: https://www.youtube.com/watch?v=jFDyRft_y5Y

Seguindo nessa toada, em 2009, ele compôs as músicas para o disco com a história do São Paulo que, mesmo sendo destinado ao público infantil, certamente atraiu o público adulto, principalmente torcedores tricolores. Trata-se de um registro da história do clube de uma maneira diferente e divertida.

O disco começa com o Foguete tricolor:

9, 2, 9, 3, 0, 5 aperte o cinto que o foguete tricolor vai decolar
Lá vai o foguete tricolor voando pelo céu no espaço sideral
Uau, colossal (2x)
Na cabine do foguete o piloto digita feito louco no seu computador
"Velhinho Sabereta!
Fala mestre.
Tô aqui assim, curioso.
Curioso com o que mestre?
A vida, como era a vida, antes do São Paulo existir? Havia vida?
Hum, vamo vê, vamo vê"
Enquanto o velhinho trabalha eu olho pra janela
E vejo no espaço
A bola, ela, a bola
Amada bola, pequeno sol do universo futebol
Como planetas apaixonados giramos ao seu redor
Amada bola, pequeno sol do universo futebol
Como planetas apaixonados giramos ao seu redor
"Sim mestre, havia vida.
Atenção, reprogramar a direção, buraco negro, aproximar, entrou."
Vamos passear na avenida do tempo
Vamo ver, vamo ver como tudo começou (3x)

Iniciando na sua pré-história, com as conquistas do Paulistano que deram origem ao time do São Paulo, o disco vai passando por várias fases, como a primeira conquista em 1931, com apenas 1 ano de vida: 

Bebê, o que você na mão
Não é mamadeira ,não é não
É uma da taça da cor do sol
Que eu ganhei do futebol

Depois vai desfilando uma história envolvente com informações detalhadas sobre os ídolos, os grandes jogos e as principais conquistas do Clube até o final dos anos 2010, com os títulos daquela época. Para fazer justiça a todos ídolos, o  disco finaliza citando diversos de nomes que fizeram parte da história:... nomes para não esquecer (como diria o próprio Hélio Ziskind).

Esse disco, logo que foi lançado, mereceu uma resenha do Vítor Biner que vale a pena conferir: http://blogdobirner.virgula.uol.com.br/2009/11/28/coracao-de-5-pontas/

E finalizo entregando minha torcida: que a inspiração de artistas como o Hélio Ziskind reflita no time atual para que volte aos bons tempos...

(1) Esse disco ganhei do Zedu, famoso tricolor, dono da loja de brinquedos educativos Tatu Bolinha, em Campinas, SP


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O Retorno do Santa Cruz à elite (e o inspirado Siba)

Santa Cruz, supercampeão pernambucano em 1976. Em pé, é possível ver Carlos Alberto Barbosa (que faleceu tragicamente durante uma partida de futebol em 82), Levir Culpi e Givanildo (ambos técnicos atualmente), Agachado, no centro está Nunes e ao lado, Volnei, outro grande atacante daquela época. 

Todo início de temporada, é comum os times fazerem jogos amistosos como preparação. Mesmo contando em muitos casos com atrativos como estreias de jogadores recém contratados, normalmente esses jogos não atraem muita atenção do grande público.

Mas no próximo domingo, dia 24 de janeiro de 2016, um amistoso em especial deve receber grande público: no Arruda, no Recife, o Santa Cruz enfrentara o Flamengo.

Nunca morei no Recife, mas basta conhecer um pouco a empolgação da torcida do Cobra-coral (1) para chegar a essa conclusão.

Um dos motivos é que nesse jogo haverá uma homenagem especial ao ex-jogador Nunes. Trata-se de um jogador que entrou na história de ambos os clubes. Nos tempos áureos do Santa Cruz, Nunes ganhou títulos como o bisupercampeonato (2) pernambucano de 1976-1977, além de ter feito muitos gols que contribuíram para as grandes campanhas do time pernambucano nos campeonatos brasileiros. No Flamengo entrou definitivamente para a história ao marcar, em 1980, o gol decisivo do primeiro campeonato brasileiro do rubro-negro, e no ano seguinte, o artilheiro fez outros dois gols na final do Mundial contra o Liverpool. Depois ainda foi importante no título brasileiro de 1982.

Outro motivo para confiar na empolgação da torcida do Santa Cruz é que a esse ano que se inicia marca o retorno do tricolor à elite do futebol brasileiro depois de uma década, tempo em que chegou a amargar diversos descensos, chegando a disputar a série D do Brasileiro (4ª divisão). E mesmo na época de vacas magras, sua torcida sempre compareceu em massa no estado do Arruda, dando ao time recordes de públicos em vários anos.

Para se ter uma ideia, no campeonato brasileiro da série B de 2007, ano em que o Santa Cruz foi rebaixado para a série C, dos 10 maiores públicos daquela campeonato, quatro foram de seus jogos em casa.

Aquela campanha, mesmo ruim, não só contou com presença do público, como serviu de inspiração para um dos seus mais relevantes torcedores do meio artístico atualmente: Siba, legítimo representante do Mangue Beat, conhecido na década de 1990 com a banda Mestre Ambrósio, conseguiu transformar sua desilusão em inspiração para compor uma bela canção relembrando o que muitos prefeririam esquecer. A música “Meu Time” encarando com muito humor o fato do cobra-coral ter sido rebaixado para a terceira divisão naquele ano (mal sabia que o time ainda amargaria outro rebaixamento).

A divertida letra de “Meu Time” segue abaixo:. 

Meu time foi rebaixado
Pra terceira divisão
Ninguém pode ganhar campeonato
Se o juíz não tem mãe nem coração

Meu zagueiro na bola dividida
Quase mata de um chute o centroavante
Só por isso o juiz ignorante
Expulsou o coitado da partida
Sem pensar que quem tem perna comprida
Faz a falta sem ter a intenção
E pra mim o castigo da expulsão
Só se aplica se houver assassinato
E ninguém pode ganhar campeonato
Se o juíz não tem mãe nem coração

Esse infame corrupto salafrário
Tem que ser fuzilado na parede
Toda vez que vem bola em nossa rede
Ele quer marcar gol para o contrário
Alguém prenda esse estelionatário
Que o castigo mais leve pra ladrão
É passar uns dez anos na prisão
Que se eu for castigar por certo eu mato
E ninguém pode ganhar campeonato
Se o juíz não tem mãe nem coração

Que me importa o goleiro não saber
Agarrar uma bola sem soltar?
Que me importa o zagueiro manquejar
Ter a perna zambeta e não correr?
Que me importa atacar ou defender?
Todos jogam na mesma posição
Quem encontra defeito em meu timão
Ou é cego, ou é doido, ou é gaiato
E ninguém pode ganhar campeonato
Se o juíz não tem mãe nem coração

Todo dia os atletas do meu time
Estão na sede jogando dominó
No domingo tem brega ou tem forró
Rifa, bingo, não tem quem não se anime
Não tem time que ao menos se aproxime
Do preparo da minha escalação
Para o ano meu time é campeão
Nem que jogue com prego no sapato
E ninguém pode ganhar campeonato
Se o juíz não tem mãe nem coração

Recentemente no programa Cultura Livre, ele apresentou essa música. Para ouvir, clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=KNPupehK6GA


Que em 2016, os bons tempos dos anos 1970 estejam de volta, quando o Santa Cruz chegou a semifinal do Campeonato Brasileiro (1975, após eliminar o Flamengo de Zico em pleno Maracanã) e contava com jogadores como Ramon ou Nunes. A sua torcida que sempre apoiou o time mesmo dos tempos ruins, e Siba em especial, merecem. Quem sabe ele não se inspira a compor outra música, agora para celebrar melhores tempos.

Notas:  (1) Cobra-coral é o mascote/apelido do Santa Cruz
(2) Supercampeonato é como os estaduais de Pernambuco que chegam na fase decisiva com os três principais times (Santa Cruz, Náutico e Sport) disputando em igualdade de condições.