Todo início de temporada, é comum
os times fazerem jogos amistosos como preparação. Mesmo contando em muitos
casos com atrativos como estreias de jogadores recém contratados, normalmente
esses jogos não atraem muita atenção do grande público.
Mas no próximo domingo, dia 24 de
janeiro de 2016, um amistoso em especial deve receber grande público: no
Arruda, no Recife, o Santa Cruz enfrentara o Flamengo.
Nunca morei no Recife, mas basta
conhecer um pouco a empolgação da torcida do Cobra-coral (1) para chegar a essa
conclusão.
Um dos motivos é que nesse jogo
haverá uma homenagem especial ao ex-jogador Nunes. Trata-se de um jogador que
entrou na história de ambos os clubes. Nos tempos áureos do Santa Cruz, Nunes ganhou
títulos como o bisupercampeonato (2) pernambucano de 1976-1977, além de ter
feito muitos gols que contribuíram para as grandes campanhas do time
pernambucano nos campeonatos brasileiros. No Flamengo entrou definitivamente
para a história ao marcar, em 1980, o gol decisivo do primeiro campeonato brasileiro
do rubro-negro, e no ano seguinte, o artilheiro fez outros dois gols na final
do Mundial contra o Liverpool. Depois ainda foi importante no título brasileiro
de 1982.
Outro motivo para confiar na
empolgação da torcida do Santa Cruz é que a esse ano que se inicia marca o
retorno do tricolor à elite do futebol brasileiro depois de uma década, tempo em
que chegou a amargar diversos descensos, chegando a disputar a série D do
Brasileiro (4ª divisão). E mesmo na época de vacas magras, sua torcida sempre
compareceu em massa no estado do Arruda, dando ao time recordes de públicos em
vários anos.
Para se ter uma ideia, no
campeonato brasileiro da série B de 2007, ano em que o Santa Cruz foi rebaixado
para a série C, dos 10 maiores públicos daquela campeonato, quatro foram de
seus jogos em casa.
Aquela campanha, mesmo ruim, não
só contou com presença do público, como serviu de inspiração para um dos seus mais
relevantes torcedores do meio artístico atualmente: Siba, legítimo
representante do Mangue Beat, conhecido na década de 1990 com a banda Mestre
Ambrósio, conseguiu transformar sua desilusão em inspiração para compor uma
bela canção relembrando o que muitos prefeririam esquecer. A música “Meu Time”
encarando com muito humor o fato do cobra-coral ter sido rebaixado para a terceira
divisão naquele ano (mal sabia que o time ainda amargaria outro rebaixamento).
A divertida letra de “Meu Time”
segue abaixo:.
Meu time foi
rebaixado
Pra terceira
divisão
Ninguém pode
ganhar campeonato
Se o juíz não
tem mãe nem coração
Meu zagueiro
na bola dividida
Quase mata de
um chute o centroavante
Só por isso o
juiz ignorante
Expulsou o
coitado da partida
Sem pensar
que quem tem perna comprida
Faz a falta
sem ter a intenção
E pra mim o
castigo da expulsão
Só se aplica
se houver assassinato
E ninguém
pode ganhar campeonato
Se o juíz não
tem mãe nem coração
Esse infame
corrupto salafrário
Tem que ser
fuzilado na parede
Toda vez que
vem bola em nossa rede
Ele quer
marcar gol para o contrário
Alguém prenda
esse estelionatário
Que o castigo
mais leve pra ladrão
É passar uns
dez anos na prisão
Que se eu for
castigar por certo eu mato
E ninguém
pode ganhar campeonato
Se o juíz não
tem mãe nem coração
Que me
importa o goleiro não saber
Agarrar uma
bola sem soltar?
Que me
importa o zagueiro manquejar
Ter a perna
zambeta e não correr?
Que me
importa atacar ou defender?
Todos jogam
na mesma posição
Quem encontra
defeito em meu timão
Ou é cego, ou
é doido, ou é gaiato
E ninguém
pode ganhar campeonato
Se o juíz não
tem mãe nem coração
Todo dia os
atletas do meu time
Estão na sede
jogando dominó
No domingo
tem brega ou tem forró
Rifa, bingo,
não tem quem não se anime
Não tem time
que ao menos se aproxime
Do preparo da
minha escalação
Para o ano
meu time é campeão
Nem que jogue
com prego no sapato
E ninguém
pode ganhar campeonato
Se o juíz não
tem mãe nem coração
Recentemente no programa Cultura
Livre, ele apresentou essa música. Para ouvir, clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=KNPupehK6GA
Que em 2016, os bons tempos dos
anos 1970 estejam de volta, quando o Santa Cruz chegou a semifinal do
Campeonato Brasileiro (1975, após eliminar o Flamengo de Zico em pleno Maracanã) e contava com jogadores como Ramon ou Nunes. A sua
torcida que sempre apoiou o time mesmo dos tempos ruins, e Siba em especial, merecem.
Quem sabe ele não se inspira a compor outra música, agora para celebrar
melhores tempos.
Notas: (1) Cobra-coral é o mascote/apelido do Santa Cruz
(2) Supercampeonato é como os estaduais de Pernambuco que chegam na fase decisiva com os três principais times (Santa Cruz, Náutico e Sport) disputando em igualdade de condições.
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