Eu, orgulhoso, ao lado da Isadora Cerullo, atleta olímpica e grande jogodora de rugby |
Hoje
darei um tempo do futebol para falar de uma bela história olímpica, que eu tive
o prazer e a sorte de presenciar.
Estava
no Rio de Janeiro para acompanhar as Olimpíadas, quando apareceu a oportunidade
de assistir a um jogo de um esporte totalmente desconhecido por mim até então:
rugby feminino. Pesquisando, descobri que a versão desse esporte na Olimpíada é
mais simplificada e foi criada com o objetivo de popularizar o esporte. Contando
com apenas 7 jogadores e com duração de dois tempos de 7 minutos, os times
chegam a jogar duas vezes por dia e um torneio inteiro tem duração de 3 ou 4
dias. Eu fui ver a terceira rodada
inteira, com seis jogos seguidos. Com isso eu teria oportunidade de assistir,
além das principais seleções como Nova Zelândia e Austrália, o jogo da seleção
brasileira contra o Japão.
Contribuindo
para o clima olímpico, levei uma bandeira dos refugiados para pendurar no
estádio para dar maior visibilidade para esse tema tão importante no mundo
atual, ainda mais quando Brasil fecha suas portas para receber refugiados
sírios. No estádio, localizado no Centro Olímpico de Deodoro, além de bandeiras
de diversos países, tinha uma com o famoso arco-íris que representa o movimento
LGBT carregada por um grupo de torcedores sentado bem perto de onde estava.
Achei legal essa galera nas arquibancadas, contribuindo para diversificar o
ambiente. O Brasil jogou muito bem e conseguiu sua primeira vitória no torneio.
Ambiente da torcida celebrando a diversidade (foto: Paulo P. Burian) |
Depois de um tempo, durante outras partidas que se seguiram, uma das jogadoras do Brasil apareceu naquela parte da arquibancada perto e foi saudada festivamente. A poucos metros de onde eu estava, pude percebi que a atleta era extremamente simpática e atendia a diversos pedido de fotos e autógrafos de fãs das mais diversas idades. Resolvi tietar também e fui lá cumprimenta-la. Na hora, descobri que se tratava da Isadora Cerullo, conhecida como Izzy. Além de simpática e ótima jogadora, ela tinha uma história interessante: filha de brasileiros, cresceu nos EUA e tem dupla nacionalidade. Já tinha feito cursos de biologia e direitos humanos e se preparava para ingressar em medicina nos EUA, quando soube que a Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) estava convocando atletas pelo mundo que tivessem nacionalidade brasileira também para que formassem uma seleção local. Depois de refletir por 4 meses, ela resolveu largar a vida planejada nos EUA e veio para cá realizar o sonho de ser atleta olímpica [1]. Veio constituir a seleção brasileira e ainda faz parte do Niterói Rugby. Nesse processo, conheceu Marjorie Enya, gerente do time de rugby e com quem iniciou uma bela história de amor.
Momento do pedido em casamento (http://thebiglead.com/2016/08/09/brazilian-rugby-player-isadora-cerullo-gets-proposed-to-after-medal-ceremony/) |
Na segunda-feira
passada, dia seguinte aos jogos que assisti, o Brasil encerrou sua participação
no rúgbi feminino com um honroso 9º lugar (fato que garantiu a participação do
Brasil no circuito mundial) e, ao término, Izzy foi surpreendida por um inusitado
pedido de casamento de sua namorada em plena instalação olímpica. Pedido
aceito na hora e que teve ótima repercussão no mundo. Certamente a notícia de um
fato como esse é algo a ser muito celebrado e entrou para a história dessa
Olimpíada. Em um momento em que não só no Brasil mas no mundo, nos deparamos
como uma onda conservadora, de seguidos atos de homofobia, xenobobia e racismo,
histórias como essa nos fazem manter a esperança por um mundo melhor, como ela
mesmo sentenciou:
"Toda essa visibilidade está dando um novo rosto ao
Brasil. Por ser o país que está sediando os jogos, isso ajuda a abraçar essa
mentalidade mais tolerante" [2]
Fiquei
feliz de ter, de certa forma, testemunhado um momento importante não só para o
esporte, mas para toda a sociedade. Que o amor vença a intolerância e o ódio.
Cena do jogo entre Brasil e Japão pela primeira fase (foto: Paulo P. Burian). |