quarta-feira, 27 de junho de 2018

Brasil x Sérvia: viagem na Copa

Hoje, devido às circunstâncias profissionais que fugiram da minha vontade, passei por uma experiência nova: não assisti o jogo do Brasil com amigos, em casa ou festejando.
Estava retornando de viagem de trabalho, dirigindo, durante grande parte do dia. 
Na hora do almoço, calculei para parar em uma churrascaria de estrada para pegar o fim do jogo da Alemanha. Todos que estavam lá vibraram com os gols da Coréia. 
Sai dali e continuei a viagem rumo a Curitiba. Ainda estava a uns 260 km.

Chegando no horário do jogo do Brasil, eu nao encontrava postos nem lanchonetes. Procurei no rádio e acabei sintonizando (mal ..com ruídos) a transmissão com José Silvério, um locutor mexe com as minhas memórias, pois é o mesmo que narrava os jogos que eu escutava na infância e quem eu imitava quando jogava botão. Na época, não se transmitia tantos jogos na TV de modo que me acostumei a ouvir os jogos no radinho e a voz dele era marcante. 

Com cerca de 30 minutos, finalmente avistei uma simpática lanchonete, próxima a entrada de Palmeira, uma cidade a cerca de 90 km de Curitiba de colonização alemã e que serviu de local para a Colônia Cecília. Segundo registros, pode ter sido a primeira colônia anarquista das Américas.. 
Parei, entrei e encontrei a tão aguardada TV sintonizada no jogo. 

Pouquíssimas pessoas (uns 4 fora eu e os funcionários ou donos do estabelecimento) e pouca animação. Cada um sentado em sua mesa, comendo algo com os olhos na TV.

Na hora do primeiro gol, timidez total. Um comentou "beleza"..outro comentou "finalmente". Quem celebrou de maneira um pouco mais solta me pareceu a dona da lanchonete.
Pedi um pastel, um suco e um cafezinho no final. E continuei lá, para assistir todo o segundo tempo. 
O cenário não mudou muito. Um ou outro comentário de que hoje o Neymar não tinha caído tanto e só. 
Segundo gol...e embora já menos timidos, a vibração ainda foi pouca.

No local, não havia bandeirinhas ou qualquer coisa que lembrasse que estávamos em época de Copa. 
Como eu estava dirigindo...tive que me contentar em ver sem beber nada. Mas comprei uma cerveja caseira produzida na região para degustar depois em casa. O nome? Anarquista IPA (foto). Me conquistou pelo rótulo e espero que seja boa (está na geladeira).

Não sei dizer se há 4, 8 ou 12 anos, em uma cena semelhante durante a Copa, o ambiente estaria do mesmo jeito. Embora a dona, os funcionários e os demais clientes parecessem todos ótimas pessoas, o ambiente não estava festivo. Talvez tenha sido um retrato do mais baixo entusiasmo pela seleção em Copas desde que me conheço por gente. 

Qual a causa? Uns diriam que o país "amadureceu" e não pára mais por causa de futebol. Outro,s que o maior ídolo atual no futebol não seja merecedor de qualquer incentivo, já que é uma figura mimada, individualista em um esporte coletivo e arrogante. 

Mas penso que certamente isso tudo é reflexo do que está ocorrendo desde que nosso triste país optou pelo caminho do golpe constante, pelo retrocesso e pelas medidas conservadoras. Um país homofóbico, misógino, racista e que perdeu a vergonha de exterminar sua população de periferia. Um país que mata Marielle e Marcos Vinicius e não se preocupa em solucionar. Um país em que um juiz de primeira instância, senhor de regalias, mantém sem prova alguma e de forma inconstitucional, preso político o líder das pesquisas e quem governou esse país tão bem há pouco tempo.

Na saída, encontrei um sujeito em situação de vulnerabilidade, desempregado, vendendo desesperadamente amendoins para poder comprar algo para comer. Acho que ele nem viu o jogo. Eu comprei um pacotinho e segui viagem... sem festa e sem farra por um país que, classificado no futebol, está com a alma destroçada.

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