Elza e Garrincha na década de 1960 (fonte: http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,fotos-historicas-garrincha-e-elza-soares,11740,0.htm) |
A relação entre música e futebol
tem como mais representativo ícone a história entre Garrincha e Elza Soares
entre os anos 1960 e 1970.
Após se conhecerem no final de
1961 em um evento para impulsionar a eleição do Garrincha como “Jogador Mais
Popular do Rio”, em 1962 se apaixonaram e iniciaram um caloroso relacionamento.
Naquela época, ambos estavam em carreira ascendente: enquanto Elza Soares
despontava como artista de primeira grandeza da música nacional, escalada para
representar o Brasil em um evento cultural que ocorreria no Chile paralelamente
à realização da Copa do Mundo, Garrincha alcançava o auge da sua carreira:
bicampeão mundial pela seleção brasileira sendo eleito o craque da Copa,
campeão carioca e campeão do Torneio Rio-São Paulo pelo Botafogo.
Mas mesmo com altos e baixos,
essa relação foi ficando cada vez mais intensa e até mesmo as carreiras do
futebolista e da cantora passaram a se misturar. Fonte de inspiração de
diversas canções, desde o início da carreira como uma marchinha gravada por
Angelita Martinez em 1959, até a sua decadência, como a "Balada nº 7" do Moacir
Franco, Garrincha chegou a compor dois sambas gravados pela Elza Soares. Um
deles foi “Receita de Balanço”: Vamos
balançar, cantando...vamos balançar, sambando..Vamos balançar, e deixando a
tristeza da vida pra lá”. O outros foi “Pé Redondo”, esta incluída no disco
“Um Show de Elza”, gravado em 1965.
Além disso, Garrincha serviu de
inspiração para inúmeras canções após o término de sua carreira, como a clássica
“Futebol", do Chico Buarque, de 1989.
Entretanto, o relacionamento
entre Garrincha e Elza Soares não era bem visto por uma sociedade machista e a
barra pesava principalmente sobre a cantora. Por um lado, era criticada pelos
eternos falsos moralistas de plantão como se fosse a responsável pelo fim do
casamento já fracassado de Garrincha com Nair. Por outro lado, os amigos do
craque também passaram a torcer o nariz para aquela relação já que ela, ciente
de que o maior adversário do Mane era o alcoolismo, chegava a procura-lo de
boteco em boteco para trazê-lo de volta, tentando impedir que ele caísse na
tentação de beber.
Com isso, a guerreira Elza,
acostumada com a vida dura desde que nasceu enfrentou mais essa barra em sua
vida e mesmo enfrentando problemas no relacionamento com o craque já consumido
pelo alcoolismo, não se furtou a tentar de tudo para recuperar o craque quando
se aproximava o final da carreira, chegando a leva-lo para a Itália em 1970
para tentar afastá-lo das bebidas enquanto tocava sua carreira na Europa,
afastando-se do Brasil na época em que a ditadura apertava o cerco por aqui,
perseguindo inclusive vários artistas.
E foi essa garra incrível que
pude presenciar no show que ela deu na última sexta-feira, dia 6 de maio, no
Teatro Guaíra em Curitiba. Cantando principalmente o intenso repertório de
inéditas do disco “Mulher do Fim do Mundo”, Elza mostrou que é uma artista que
sabe se reinventar a cada ciclo, interpretando músicas que tratam de assuntos
como violência contra a mulher, racismo, preconceitos contra população de
periferia entre outros.
Elza Soares no show "Mulher do Fim do Mundo" (foto minha) |
E para finalizar o show (e o
disco), ela, que enfrentou mortes trágicas de seus filhos (incluindo o único
que teve com o Garrincha), homenageia a própria mãe, que faleceu em acidente de
carro quando o seu companheiro-craque dirigia alcoolizado, na belíssima canção “Comigo”,
de Rômulo Fróes e Alberto Tassinari, cantada à capela após uma sequência de sons distorcidos ( https://www.youtube.com/watch?v=k3CGdu_Dijw )
“Levo minha mãe comigo
embora já se tenha ido
Levo minha mãe comigo
talvez por sermos tão parecidos
Levo minha mãe comigo
de um modo que não sei dizer
Levo minha mãe comigo
pois deu-me seu próprio ser”
Que a garra dessa cantora incrível
sirva de exemplo a todos! E de quebra ainda homenageia as mães guerreiras desse país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário