É sabido que Rubem Alves não
sabia nada de futebol, não jogava, não torcia e tampouco conhecia algum jogador
(exceto o Ronaldinho Gaúcho, por quem torcia devido à alegria que transmite
enquanto joga). Entretanto, provocado por sua editora, em 2006 resolveu
escrever um livro que tem esse esporte apaixonante como tema central: O
Futebol levado ao Riso.
Trata-se, como ele mesmo definiu,
de uma brincadeira, em que aborda de uma forma leve e pessoal a relação do
futebol com diversos temas como religião, infância, guerra, matemática, e principalmente...torcida.
E através de seu afastamento em
relação ao futebol conseguiu dar pistas interessantes das razões que o levaram a
ser tão apaixonante quanto é.
“O futebol é o
circo do mundo. Não há nenhum outro esporte que provoque tanta paixão, tanta
alegria, tanta tristeza. O futebol dá sentido à vida de milhões de pessoas que,
de outra forma, estariam condenadas ao tédio. É o assunto, nas manhãs de
segunda-feira, em bares, escritórios, fábricas, taxis, construções. O futebol é
a bola que se joga no jogo das conversas. Faz esquecer lealdades políticas,
ideológicas, religiosas, econômicas, raciais. É a grande religião ecumênica.
Acabam as diferenças. Todos são iguais. São torcedores de futebol. No mundo
inteiro.” (ALVES, 2006, p. 7)
Para Rubem Alves, tal como as
pessoas se ligam a uma religião, o que faz escolher determinado time não seriam
razões intelectuais ou racionais, mas sim meramente afetivas ligadas a uma
experiência social de pertencer a um coletivo. Refletindo sobre a natureza do
torcedorm conclui que “o torcedor não se
apaixona pelo time. Eles se apaixona pela torcida do time. O time só é o cabide
onde a torcida está dependurada”. (ALVES, 2006, p. 26).
A torcida pode chegar à apoteose
com a conquista de um título, mas o que mantém seu interesse pelo futebol é a
renovação constante, o fato de “passada a
euforia da vitória todos os times voltam à estaca zero, porque o futebol não
leva a lugar algum” (p.30). Gostamos de ver o adversário derrotado, mas
para isso, é preciso que esse mesmo adversário renasça também. Rubem Alves utiliza-se
da comparação com a lógica reinante de desenhos animados como Tom e Jerry:
“A gente sabe
que, depois de se partir em mil cacos, o Tom vai reaparecer, na cena seguinte,
forte e mau como sempre, sem apresentar quaisquer sinais do sucedido
anteriormente. E depois de ser reduzido à condição de caranguejo ou de
panqueca, ele vai estar logo em ação de novo, pois, caso contrário o desenho
acabaria.
Pensei, então,
que a gente dá risada quando o vilão se ferra, mas não de forma definitiva. Ele
se recupera sempre para ser ferrado de novo e de novas formas, para que o riso
se repita.” (ALVES, 2006, p. 34).
E até para esse momento de ressaca
após uma bela Copa em casa, aliada à contundente derrota frente à Alemanha,
Rubem Alves trouxe importante colaboração no capítulo que relaciona futebol ao
sadismo:
“No final todos
os Tons ressuscitarão. Ressuscitarão, belos e lampeiros, em seus uniformes
brilhantes, na próxima Copa, como se nada tivesse acontecido. Tudo é desenho
animado” (ALVES,
2006, p . 23).
Mesmo sem entender ou até mesmo
se envolver com futebol, o legado de Rubem Alves também ficou para os amantes deste
esporte, lembrando que uma das suas graças é justamente a sua efemeridade, a
sua constante renovação...tal como a vida. Que venha a próxima Copa!
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