sábado, 25 de junho de 2016

A música de Johan Cruyff

Meu chaveiro que homenageia Cruyff e a camisa retrô da laranja mecânica com duas listras

A Eurocopa em disputa atualmente tem, como grande ausência, a Holanda, que nos últimos anos acostumou-se com certo protagonismo no futebol. Entretanto, nem sempre foi assim. Durante boa parte do século XX, a seleção holandesa nem chegava a disputar Copas do Mundo. Foi só a partir da década de 1970, mais precisamente na Copa de 1974, que a Holanda entrou definitivamente no rol das grandes seleções mundiais ao apresentar o chamado futebol total, em que se notabilizou por jogadores que trocavam de posições e flutuavam em campo, confundindo a marcação adversária. E o maior responsável pelo futebol apresentado pela Laranja Mecânica foi Johan Cruyff. Ídolo do Ajax e do Barcelona, Cruyff foi um jogador inteligentíssimo em campo, que revolucionou a forma de atuar, sempre com grande personalidade e, sobretudo, genialidade que imortalizou a camisa 14. Cruyff foi daqueles jogadores cujo protagonismo transcende os gramados, deixando uma biografia repleta de fatos bem interessantes. [1]

Alguns desses são bem conhecidos, como o fato de ter sido uma criança com problemas ortopédicos que somente foi jogar futebol na base do Ajax após sua mãe, viúva e trabalhando como faxineira do clube, acreditar que a prática do esporte poderia ajudá-lo na recuperação dos problemas que ele tinha com as pernas.

Cruyff foi um dos pioneiros na atenção aos direitos de imagem. Na Copa de 1974, o principal craque do Carrossel Holandês era patrocinado pela Puma. Entretanto, a sua seleção tinha uniformes fornecidos pela Adidas. Para não ter sua imagem atrelada à Adidas com as três listras na camisa, optou por usar uma em que possuía apenas duas listras no ombro, diferentemente do resto de seus companheiros de seleção.

Quatro anos depois, na Copa de 1978 disputada na Argentina, com 31 anos e craque plenamente consagrado, optou por não jogar. Na época ainda houve uma campanha para que ele mudasse de ideia chamada “ Pull Cruyff Over the Line”, que tinha como tema a famosa canção tema dos Smurfs chamada “Father Abraham” (https://www.youtube.com/watch?v=kWbMikrZ91U). Mas não adiantou e ele acabou não participando do segundo vice-campeonato seguido da Holanda.

Durante muito tempo acreditou-se que teria sido um boicote pessoal à forte ditadura militar que assumiu o poder naquele país, já que ele era bastante politizado. Entretanto, 30 anos depois da Copa, ele revelou que abriu mão de disputar aquela Copa por conta de um assalto que havia sofrido em sua residência um ano antes em Barcelona, ocasião que o fez repensar suas prioridades de vida e preferir ficar com sua família naquela época. Em seguida, o craque do Barcelona na época anunciou sua precoce aposentadoria (que não iria durar muito).

Um aspecto surpreendente na sua trajetória é o fato de que, além de ser muito magro, o craque holandês fumava cerca de 20 cigarros por dia, inclusive em intervalos de partidas de futebol, algo impensável para um atleta de ponta nos dias de hoje. Anos mais tarde, já como técnico de futebol também revolucionário do Barcelona, Cruyff teve um enfarte e, alertado pelo médicos, não só largou o vício em 1991, como também atendeu a pedido do  Departamento de Saúde da Catalunha e participou de uma campanha televisa em que dizia: “o futebol me deu tudo. Fumar quase me tirou” (https://www.youtube.com/watch?v=KDLjnkXRZUA).

No meio de todas essas histórias que enriquecem sua biografia, uma delas é ainda pouco conhecida: o fato dele ter gravado, no final dos anos 60, duas canções holandesas que que mais lembram músicas folclóricas que tocam em eventos como Oktoberfest: Oei, Oei, Oei (https://www.youtube.com/watch?v=AfX9uwL0F2k) e Alle stoppen ineens naar de knoppen (https://www.youtube.com/watch?v=CALdxmxFTng). Mas convenhamos que, como cantor, Cruyff foi um excelente jogador de futebol.


Capas da grande imprensa mundial homenageando-o em março de 2016 (fonte:http://www.dailyrecord.co.uk/sport/football/football-news/feyenoord-bring-friendly-sparta-rotterdam-7626843) 

Infelizmente em 24 de março deste ano, o câncer no pulmão (certamente relacionado aos anos em que fumava) acabou levando Cruyff. Eleito em 1999 como o melhor jogador europeu do século XX e o segundo melhor do mundo (atrás apenas do Pelé) pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS), definitivamente o futebol ficou de luto. Perdemos um genial ex-jogador e ex-treinador, mas ficou o mito.

Paulo Procópio Burian

Notas: [1] Para conhecer um pouco do seu futebol, vale a pena ver alguns vídeos, como, por exemplo, esse aui: https://www.youtube.com/watch?v=NjvsnwnHJyM

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