sexta-feira, 17 de junho de 2016

Rogers e o combate à homofobia no futebol

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Bradley e sua braçadeira de capítão em homenagem às vítimas do massacre na Boate Pulse (


Pela Copa América Centenário, na última quinta-feira (16/6) tivemos o primeiro jogo das quartas-de-final disputado entre os EUA e o Equador, vencido pela equipe anfitriã por 2 x 1. Antes de começar o jogo, o estádio inteiro respeitou um minuto de silencio pelos mortos no massacre ocorrido na boate Pulse, famosa pelo público LGBT, em Orlando (EUA) no último final de semana. Em campo, o meia Michael Bradley, como forma de demonstrar seu apoio à causa, ostentava a braçadeira de capitão com as cores do arco-íris, marco mundial do movimento LGBT.

A repercussão desse massacre homofóbico dentro do ambiente tradicionalmente conservador que é o futebol acaba adquirindo um caráter ainda mais importante. Vale lembrar que o esporte mais popular do planeta é extremamente atrasado em relação ao trato com a diversidade e as provocações entre torcedores no mundo inteiro são exemplares em demonstrar como o ambiente do futebol ainda tem muito a evoluir. No Brasil, só para citar um único exemplo, as torcidas dos principais clubes costumam gritar um uníssono “bicha” quando o goleiro adversário corre para cobrar tiro de meta.

De fato, o futebol costuma refletir a homofobia presente no mundo atual e o maior exemplo disso é a dificuldade que qualquer jogador homossexual tem em assumir sua condição publicamente.

Robbie Rogers, em jogo pela seleção dos EUA

Nesse cenário, torna-se muito importante quando nos deparamos com algum jogador que consiga encarar esse ambiente e efetivamente “sair do armário”. Um dos poucos casos foi do meia estadosunidense Robbie Rogers, com passagens pela seleção dos EUA e que  quando estava jogando no competitivo futebol inglês em 2013, com apenas 25 anos, fez um relato em seu blog pessoal assumido ser homossexual e declarando que estava encerrando a sua carreira prematuramente:
 “Na sociedade atual ser diferente te faz corajoso. Para superar seus medos você precisa der forte e ter fé em seus propósitos', escreveu ele, contando como teve de aprender a conviver com o medo da rejeição: 'Por 25 anos eu tive medo, medo de mostrar quem eu realmente era (...) medo de que as pessoas que eu amo se afastassem de mim se soubessem meu segredo. Medo de que meu segredo atravessasse o caminho dos meus sonhos. O sonho da uma Copa do Mundo, o sonho das Olimpíadas, o sonho de deixar minha família orgulhosa. O que seria da vida sem esses sonhos? Eu poderia viver sem eles?”.

Felizmente, meses depois acabou retornando aos gramados para defender o Los Angeles Galaxy, um dos times mais vitoriosos da MLS (a liga de futebol norte-americano), fato que mereceu uma boa reportagem do Trivela (http://trivela.uol.com.br/mais-uma-grande-vitoria-na-carreira-de-robbie-rogers/)

Desde então, Rogers tem sido um importante porta-voz LGBT no conservador ambiente do futebol, chegando a dizer que caso seja convocado para jogar as próximas Copas do Mundo que serão disputados em países que possuem restrições aos homossexuais, como a Rússia e o Catar, ao invés de boicotar, ele iria aproveitar para escancarar ainda mais essa questão, afirmando que:

"Se eu tivesse que ir para a Rússia ou para o Catar, eu iria sim e seria extremamente “flamboyant” (...) Eu acho que o que aprendi com a minha experiência de sair do armário e estar presente ali no vestiário é que isso é um discurso mais forte do que um boicote ou algo do tipo".

A atitude e luta de Rogers, assim como a solidariedade do capitão dos EUA Bradley na Copa América devem ser enaltecidas, ainda mais em tempos como os atuais, quando temos observado a propagação de discursos homofóbicos e racistas de Bolsonaros da vida. O recente massacre na Boate Pulse ou ainda o assassinato de professores gays no interior da Bahia, cujos corpos foram encontrados carbonizados, são reflexo direto dessa propagação de ódio à diversidade sexual.

Esperamos que algum dia a homofobia seja extirpada não só do careta ambiente do futebol, como de toda sociedade. Mas até lá temos um longo caminho, como a exemplar história de Rodgers demonstra. 

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