sábado, 31 de maio de 2014

Honduras, da guerra à paz

 Seleção de Honduras em 1982 (Foto: Seven Simon, Revista Placar, no.625, de 14 de maio de 1982)

A primeira recordação em relação ao futebol hondurenho está relacionada ao triste episódio que ficou conhecido como “guerra do futebol”, ocorrida em 1969 entre Honduras e El Salvador.

Naquele ano, os países eram governados por militares que enfrentavam sérias dificuldades econômicas e políticas. Acusando o vizinho de ocupação de suas terras, o governo hondurenho passou a expulsar milhares de camponeses salvadorenhos, agravando ainda mais tensão entre ambos. No meio desse caldeirão político, as seleções de seus países chegavam à disputa final das eliminatórias para a Copa a ser disputada no México no ano seguinte.

No primeiro jogo, em Tegucigalpa (capital da Honduras), diante de forte pressão da torcida local, Honduras ganhou por 1 x 0 com gol no último minuto. Logo após a partida, uma salvadorenha não aguentou a humilhação e se suicidou, causando grande comoção nacional. Na semana seguinte, em San Salvador, os salvadorenhos foram à forra, pressionaram de tudo quanto é jeito e acabaram ganhando de 3 x 0, forçando a realização de um jogo extra. Após esse jogo, dois torcedores hondurenhos foram mortos outras dezenas acabaram hospitalizados.

Na disputa pela vaga, no México, com os ânimos pra lá de exaltados, Honduras perdeu na prorrogação por 3 x 2, deixando a vaga para El Salvador. Imediatamente a fronteira entre ambos países foi fechada e a guerra foi declarada. O conflito durou cerca de uma semana e morreram ente 4000 e 6000 pessoas (o número de mortos varia dependendo da fonte consultada). Embora conhecida como “A guerra do Futebol”, ao que parece o futebol não foi a causa, mas sim serviu de pretexto para acirrar as rivalidades entre suas populações. Há até uma música local sobre o conflito: https://www.youtube.com/watch?v=TcATRFMRpaQ.

Para saber mais, vale a pena consultar o livro do polonês Ryszard Kapuscinski, “A Guerra do Futebol” (http://livraria.folha.com.br/livros/grandes-reportagens/guerra-futebol-ryszard-kapuscinski-1011874.html).  E um documentário interessante pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=NWsLerZLFX8

Doze anos depois desse conflito, Honduras e El Salvador se classificaram para a Copa do Mundo de 82, disputada na Espanha. Um dia após a seleção salvadorenha estrear com uma acachapante derrota de 10 x 1 diante da Hungria (recorde de goleada na história da Copas), Honduras entrou em campo para enfrentar a seleção dona da casa. Para muitos, seria um jogo tranquilo para a Espanha, com expectativa de goleada. Entretanto, com a bola rolando, o que se viu foi um jogo equilibrado com a seleção quase amadora da América Central abrindo o placar no primeiro tempo com Zelaya e segurando o placar com ótima atuação do goleiro Arzu. O empate espanhol veio só no 2º tempo com um pênalti duvidoso e o jogo ficou no 1 x 1. Vale a pena conferir esse jogo: https://www.youtube.com/watch?v=_rbhQE7PWRk

Na segunda rodada, a Honduras ficou em novo empate em 1 x 1 frente à Irlanda do Norte, deixando a definição do grupo para a última rodada quando o acabou levando um gol decisivo em um pênalti aos 43 min do 2º tempo contra a Iugoslávia. Com a derrota e a eliminação, muitos jogadores hondurenhos que brilharam em campo caíram no choro.

A seleção hondurenha retornou à Copa somente em 2010, novamente após passar por um período político tenso com a destituição em 2009 (ou golpe de Estado, dependendo do ponto de vista) de outro Zelaya, então presidente (não confundir com o Zelaya autor do gol contra a Espanha). Na Copa de 2010, foram duas derrotas e um empate e nova eliminação na primeira fase.

Agora, retorna à sua terceira Copa em um momento político mais tranquilo e em paz com o vizinho El Salvador. Resta saber se isso será suficiente para que consiga sua primeira vitória em Copas do Mundo, o que já seria um feito a ser celebrado em Tegucigalpa.





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