sábado, 7 de junho de 2014

Argélia, de Camus a Madjer

Madjer fazendo o gol contra a Alemanha em 82

Nascido na Argélia antes de sua independência, o filósofo e escritor Albert Camus notabilizou-se não apenas por suas grandes obras literárias, mas também por suas lutas por causas sociais. Ainda na Argélia, denunciava o tratamento dado aos árabes pelos franceses. Posteriormente, na França ocupada pelos nazistas, fez parte da Resistência.

Entretanto, uma faceta menos conhecida do escritor era o seu gosto por futebol. Ainda na juventude, chegou a jogar como goleiro em um time na Argélia e só não seguiu carreira devido a uma tuberculose. Passou a vida fazendo referências ao futebol e assistindo jogos. Uma interessante reportagem sobre isso, incluindo a visita ao Brasil em 1949 está aqui.

Morreu em 1960, vítima de acidente de carro sem assistir não apenas a independência da Argélia em 1962, como também o seu país natal disputar uma Copa do Mundo. Tal como Camarões, a seleção da Argélia chegou a sua primeira Copa em 1982 ao bater a Nigéria no jogo decisivo, com gol de um atacante até então desconhecido, chamado Rabah Madjer.

No ano seguinte, na Copa, a estreia foi contra a poderosa Alemanha Ocidental que contava com Rummenigge, Breithner, Schummacher entre outros. Ao contrário do que a grande maioria poderia supor, a Argélia foi pra cima e venceu por 2 x 1, sendo que o primeiro gol foi marcado novamente por Madjer, ainda desconhecido mundialmente.

Após derrota para a Áustria, a Argélia venceu o Chile e teve que aguardar o resultado entre Áustria e Alemanha Oc. para confirmar ou não sua classificação (o único resultado que a eliminaria seria vitória alemã por um gol). Com dez minutos de jogo a Alemanha fez 1 x 0 e durante o resto do jogo, o que se viu foi uma vergonha: os dois times abdicaram do jogo e ficaram tocando a bola de lado, esperando o tempo passar sob vaias do público presente. A Argélia voltou pra casa eliminada, mas de cabeça erguida pelo belo futebol apresentado.

Após a Copa, Madjer foi jogar em times europeus e chegou, sem alarde, ao Porto, de Portugal em 1985. No primeiro jogo, entrou no segundo tempo contra o Belenenses e foi decisivo na virada por 3 x 2 ao marcar dois gols. Em três temporadas, ganhou tudo que podia e tornou-se um dos maiores ídolos da história do time daquele time português. Simbolicamente, a consagração viria novamente contra os alemães, na final da Copa dos Campeões contra o Bayern, quando fez um gol sensacional de calcanhar (após passe do brasileiro Juari) e o Porto sagrou-se pela primeira vez, campeão europeu.

Meses mais tarde, debaixo de uma nevasca impressionante no Japão, o argelino não se acovardou, fez mais um gol decisivo a ajudou seu time ao chegar ao título mundial contra o Penarol.

Camus diria que “tudo quanto sei com maior certeza sobre a moral e as obrigações dos homens devo-o ao futebol.” Como uma bela paródia, após a Copa de 82, Madjer foi um jogador que deu orgulho aos argelinos, venceu na Europa, ganhou dos alemães chegou a topo do mundo.  Uma trajetória que certamente daria orgulho a famoso escritor.


Agora a Argélia retorna sem grandes estrelas, mas pelo menos com uma bela história para contar. 

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