Madjer fazendo o gol contra a Alemanha em 82
Nascido na Argélia antes de sua independência,
o filósofo e escritor Albert Camus notabilizou-se não apenas por suas grandes
obras literárias, mas também por suas lutas por causas sociais. Ainda na
Argélia, denunciava o tratamento dado aos árabes pelos franceses.
Posteriormente, na França ocupada pelos nazistas, fez parte da Resistência.
Entretanto, uma faceta menos conhecida
do escritor era o seu gosto por futebol. Ainda na juventude, chegou a jogar como
goleiro em um time na Argélia e só não seguiu carreira devido a uma
tuberculose. Passou a vida fazendo referências ao futebol e assistindo jogos.
Uma interessante reportagem sobre isso, incluindo a visita ao Brasil em 1949
está aqui.
Morreu em 1960, vítima de
acidente de carro sem assistir não apenas a independência da Argélia em 1962,
como também o seu país natal disputar uma Copa do Mundo. Tal como Camarões, a
seleção da Argélia chegou a sua primeira Copa em 1982 ao bater a Nigéria no
jogo decisivo, com gol de um atacante até então desconhecido, chamado Rabah Madjer.
No ano seguinte, na Copa, a
estreia foi contra a poderosa Alemanha Ocidental que contava com Rummenigge,
Breithner, Schummacher entre outros. Ao contrário do que a grande maioria
poderia supor, a Argélia foi pra cima e venceu por 2 x 1, sendo que o primeiro
gol foi marcado novamente por Madjer, ainda desconhecido mundialmente.
Após derrota para a Áustria, a
Argélia venceu o Chile e teve que aguardar o resultado entre Áustria e Alemanha
Oc. para confirmar ou não sua classificação (o único resultado que a eliminaria
seria vitória alemã por um gol). Com dez minutos de jogo a Alemanha fez 1 x 0 e
durante o resto do jogo, o que se viu foi uma vergonha: os dois times abdicaram
do jogo e ficaram tocando a bola de lado, esperando o tempo passar sob vaias do
público presente. A Argélia voltou pra casa eliminada, mas de cabeça erguida
pelo belo futebol apresentado.
Após a Copa, Madjer foi jogar em
times europeus e chegou, sem alarde, ao Porto, de Portugal em 1985. No primeiro
jogo, entrou no segundo tempo contra o Belenenses e foi decisivo na virada por
3 x 2 ao marcar dois gols. Em três temporadas, ganhou tudo que podia e
tornou-se um dos maiores ídolos da história do time daquele time português. Simbolicamente,
a consagração viria novamente contra os alemães, na final da Copa dos Campeões
contra o Bayern, quando fez um gol sensacional de calcanhar (após passe do
brasileiro Juari) e o Porto sagrou-se pela primeira vez, campeão europeu.
Meses mais tarde, debaixo de uma
nevasca impressionante no Japão, o argelino não se acovardou, fez mais um gol
decisivo a ajudou seu time ao chegar ao título mundial contra o Penarol.
Camus diria que “tudo quanto sei com maior certeza sobre a
moral e as obrigações dos homens devo-o ao futebol.” Como uma bela paródia,
após a Copa de 82, Madjer foi um jogador que deu orgulho aos argelinos, venceu
na Europa, ganhou dos alemães chegou a topo do mundo. Uma trajetória que certamente daria orgulho a
famoso escritor.
Agora a Argélia retorna sem
grandes estrelas, mas pelo menos com uma bela história para contar.
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