quarta-feira, 4 de junho de 2014

Camarões: o nascimento dos leões indomáveis


Quando se fala na seleção de futebol de Camarões, a primeira recordação que vem à tona refere-se à brilhante participação na Copa do Mundo de 1990, quando foi a primeira seleção africana a chegar até as quartas-de-final e foi eliminada em um jogo memorável depois de ter a classificação muito próxima. Entretanto, para entender o sucesso daquele time, importante resgatar episódios mais antigos dessa seleção africana que não sejam tão conhecidas assim, já que não teria muito que acrescentar ao já folclórico time camaronês que marcou o mundo em 1990.

Doze anos após conquistar sua independência, em 1972 Camarões sediou a Copa Africana de Nações, principal torneio continental de futebol. Nessa ocasião chegou à terceira colocação (o primeiro título viria somente em 1984), mas imagens da época servem de importante pista para identificarmos a origem não só daquele futebol despretensioso e bonito de se ver, mas também da empolgação da sua torcida, assim como seus ritmos e músicas.

Esse documentário apresentado a seguir mostra, além de imagens dos principais jogos, incluindo a semifinal em que Camarões foi eliminado por Mali e a final que consagrou Congo, cenas de danças típicas, certamente fruto das inúmeras etnias que formam esse país.

Já em 1982, Camarões chegou a sua primeira Copa do Mundo. A classificação veio com uma vitória frente à seleção de Marrocos diante de 130 mil expectadores no estádio Ahmadou Ahijdjo de Yaoundé. Segundo relatos daquela época, “foi o maior acontecimento no país desde a festa pela independência, em janeiro de 1960. Uma espécie de delírio coletivo tomou conta da população, obrigando o presidente da República a decretar feriado nacional no dia seguinte para que todos pudessem se refazer dos excessos” [1].

Era a 2ª. vez na história que uma jovem nação da África negra chegava a uma Copa do Mundo. Considerando que a primeira participação tinha sido a seleção do Zaire em 1974, que terminou em último com três derrotas, 14 gols sofridos, com a maior goleada até então (9x0 contra Iugoslávia) e sem marcar um gol sequer, mesmo com toda euforia, a expectativa pela seleção de Camarões não era das maiores.

Isto fica evidente na própria reportagem da revista Placar citada anteriormente, que finaliza a mesma citando que “é de se convir que as pretensões de Vicent (técnico francês da seleção de Camarões naquela Copa) são muito arrojadas e desta vez será muito difícil acontecer uma grande festa na fanática Camarões”.

Outro reflexo deste pessimismo antes da Copa estava estampado no álbum de figurinhas da Copa de 1982 publicado pela Ping Pong (de grande sucesso entre a garotada naquela época, inclusive comigo). Enquanto para a maioria das seleções o álbum tinha figurinhas de 11 jogadores, para Camarões, assim como outras consideradas zebras (Argélia, Nova Zelândia, Honduras, El Salvador e Kuwait), tinham apenas quatro jogadores retratados (ilustração do post). No caso de Camarões, eram o grande goleiro N’kono, o armador Lea Dumbe, Tokoto (atacante mais conhecido naquele time) e Abega, o capitão. Se não conseguiu se classificar na 1ª.fase daquela Copa, pelo menos aquela seleção deixou boas lembranças ao sair invicto com três empates contra Peru, Polônia e Itália, sendo eliminado apenas pelo critério de gols marcados diante da Itália que seguiu na Copa e terminou campeã.

Dois anos depois, novamente Camarões ficou em festa devido ao futebol, com a 1ª. conquista da Copa Africana de Nações em torneio sediado na Costa do Marfim. Na final venceu de virada a Nigéria por 3 x 1, sendo que Abega foi autor de um dos gols (https://www.youtube.com/watch?v=L3kK-zEWfys).

Diante de tal feito, é compreensível que o falecimento de Abega em 2012 acabou causando uma comoção nacional. Embora menos conhecido por essas bandas em relação a outros jogadores camaronenses como N’Kono, Roger Milla ou Samuel Etto, Abega teve um papel importantíssimo na consolidação daquele país como uma das principais seleções africanas.


Pode ser que não passe da 1ª. fase neste ano, mas é melhor não menosprezar a empolgação desta seleção africana com maior número de participações em Copas do Mundo (será sua 7ª. vez).  

[1] Revista Placar, nº 625, de 14 de maio de 1982.

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